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domingo, 11 de dezembro de 2011

Brasil e ES em Durban




No nosso Estado, segundo Wilson Prudente, procurador-geral do Trabalho no Espírito Santo  (ligado à Procuradoria Geral da República) e um dos participantes da delegação brasileira  em Durban, repete-se o modelo em vigor em todo o país: uma forma indireta e disfarçada de racismo predomina.

“Ninguém no Brasil, e no nosso Estado, diz diretamente ‘você não vai ser admitido porque é negro, ou gordo, ou homossexual’ ”, diz Wilson. “Mas são esses, nessa ordem, os elementos de preterimento das pessoas quando disputam um emprego. A forma usada pode ser ‘você não tem o perfil da empresa’, por exemplo. Mas a discriminação existe”. Para o procurador, a discriminação não é ou racial ou social: “São as duas coisas juntas. E aliadas hoje em dia a um outro elemento, ainda mais grave: a sociopatia do modelo ideal”.

Wilson explica: “Na alta modernidade, a sociedade elege o modelo humano ideal, cuja base é física – magro, saudável, de pele clara e por aí vai...” A rejeição ou aprovação da pessoa depende da distância ou aproximação dela com o modelo ideal: “Adolescentes têm de ser longilíneas, de olhos claros, saradas, e não há contestação a esse modelo”. Essa atitude é o que Wilson chama de sociopatia, ou síndrome do modelo, e que gera o fetichismo utilizado à exaustão pela propaganda. E instala uma gradação de aceitação das pessoas, uma escala de distância do modelo na qual é maior a rejeição quanto maior a diferença entre a pessoa e a representação de pessoa que o mercado requer. O pior é que gera também a auto-rejeição, com cada pessoa se reprimindo e se punindo pela sua origem, cor ou religião diferente do que é generalizadamente aceito.

Aí é que entra a importância da reunião de Durban: “O que se quer é a diversidade, a multiplicidade”, diz Wilson. “Fugir a esta concepção antiga, que é talvez a pior forma de autoritarismo, para adotar uma grande diversidade de modelos”. Na prática, isso significa o mercado – empresas, mídia – começar a usar a imagem de gente de todas as raças, iniciar-se um processo de informação que permita a todos conhecer cada uma dessas culturas rejeitadas, estimulando assim a compreensão”.

Para Wilson, isso inclui um sem-número de maneiras de alcançar a integração do que é diferente, entre elas a presença física dos modelos rejeitados: “Hoje, você vê que já há repórteres e apresentadoras negras na televisão, mas é preciso mais, porque isso estimula as empresas a também adotar novos critérios de admissão, porque hoje só as funções de menor prestígio estão disponíveis para os discriminados, como servir o cafezinho, fazer a segurança, ou ser o motorista”.

Para atingir essa meta, Wilson acha de fundamental importância o projeto do governo brasileiro, apresentado pela nossa delegação em Durban: “É preciso adotar ações concretas, e foi isso que se fez, nesse projeto, que separa percentuais de vagas nas universidades públicas para os negros e descendentes. É uma das formas de dar aos de origem negra a oportunidade de crescimento profissional que cada vez fica mais difícil para ele, por causa dos níveis cada vez mais baixos de qualidade do ensino público, o único ensino que essas populações podem ter”.

Para o procurador, essa, no entanto, não deve ser a única providência. “Outras medidas devem ser tomadas, como exigir programas de diversidade das empresas. E se há dificuldade na execução dessas medidas, até porque a maioria da população negra é cadastrada como parda, isso não pode levar ao imobilismo. A maior crítica ao Brasil, lá fora, é que não tem praticado em casa aquilo que preconiza para o resto do mundo”.

A delegação brasileira em Durban, segundo Wilson, foi a mais numerosa, mais ágil e mais bem preparada: chegou com dados, números, estudos e soluções. “Nós votamos de modo a modificar essa impressão internacional sobre nós. E considero a reunião vitoriosa, porque aprovamos uma Declaração de Direitos que consagra uma política de diversidade. É importante, porque uma vez aprovada em conferência internacional, pode-se exigir juridicamente o seu cumprimento. Sem essa diversidade, haverá sempre um abismo social que não interessa à democracia do século XXI”.
Fonte: http://www.seculodiario.com.br
Postado por: Mônica Pontes da Costa Oliveira

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