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sábado, 27 de agosto de 2011

A Poesia como ação política (Cora Coralina)

 O poeta ou a poetisa pode se valer de personagens para aludir a um mundo ou uma temática. Cora Coralina, explícita ou implicitamente, elegeu a si mesma para denunciar diversos atos de um tempo em que as mulheres se encontravam amordaçadas. Portanto, é impossível falar de Cora Coralina sem suscitar a discussão do rótulo que desde a infância lhe impuseram, como “a menina feia”, aquela rejeitada no próprio meio familiar.
Acuada e submetida à imagem e representação da “verdadeira mulher”, Cora encontrou na literatura a forma de expressar suas leituras de mundo e denunciar os construtos sociais que permeavam a sociedade de seu tempo. Assim, ancorada nas criações de Cora Coralina, procuro apresentá-la como autora e mulher produzida no gênero e produtora de literatura, pois sua poesia expressa o cotidiano das mulheres no âmbito familiar e nos demais espaços de sua sociedade. Mulheres confrontadas e modeladas pelos rígidos preconceitos da época, conformadores do modelo normativo de mulher de sua época, como ela mesma poeticamente descreve:
Sobrevivi, me recompondo aos
bocados, à dura compressão dos
rígidos preconceitos do passado.
Preconceitos de classe,
Preconceitos de cor e de família.
Preconceitos econômicos,
Férreos preconceitos sociais. (Coralina, 1976, p.12-13)
A singularidade autobiográfica das obras de Cora Coralina elucida vários momentos de sua vida pessoal. Seus versos poéticos expressam e reafirmam como as mulheres eram conformadas pelas representações de gênero, constitutivas da organização da sociedade vilaboense, dentre outras, como as de classe, cor, raça, escolaridade, religião, geração etc. Particularmente, no caso de gênero, sua referência nos remete às análises de Joan Scott (1990, p. 20), segundo a qual este termo:
... sugere que as relações entre os sexos são aspectos primários da organização social (ao invés de uma conseqüência de, digamos, pressões econômicas ou demográfica); que os termos das identidades masculina e feminina são, em grande parte, determinados culturalmente (e não produzidos somente por indivíduos ou coletivamente); e que as diferenças entre os sexos constituem e são constituídas por estruturas sociais hierárquicas ...
Situada em seu corpo sexuado, numa identidade definida pelas representações de gênero, Cora Coralina buscou nas experiências constitutivas de sua subjetividade a força, a inspiração e o saber próprio construído para questionar e solapar a sociedade de sua época, momento no qual revelou-se para o mundo, criando com a arte de escrever a principal tática para resistir às atribuições impostas às mulheres.
O uso de pseudônimo pela autora parece-me constituir uma de suas táticas de resistência, pois ao ocultar o nome oficial encharcado de todos os estereótipos que sua condição de mulher, dona de casa e do interior goiano carrega, torna visível o de sua criação, livre de amarras e de rótulos, libertária o bastante para despojar-se de preconceitos e criar o novo. Nessa mesma direção, percebo o trabalho do escritor Saturnino Pasquero Ramón (2003), que, ao transitar entre o biográfico e o literário numa perspectiva psicológica, traçou algumas projeções sobre Cora Coralina, instigando-nos a repensar o mito de Aninha através da linguagem poética de seus versos. Para esse autor, o nome em todas as culturas, têm um caráter mágico e sagrado e, nesse sentido, o enigma do pseudônimo de “Cora Coralina” representou o seu talismã, fortificou e valorizou o metafórico de sua poesia. Ele acredita que:
... o pseudônimo Cora Coralina acaba sendo uma senha, um sinônimo, equivalente a lavadeira do Rio Vermelho... o substantivo cora ou, popularmente, quarar, com seu significado de branquear roupas, expondo-as ao sol. Libertária sim, pois com a fantasia magnânima e com êxtase da poesia, lava a sujeira, os monturos da vida, o pó da mesquinhez humana... as lavadeiras, em sua grandeza, fazem o cotidiano mais limpo e perfumado. Cora, a lavadeira do Rio Vermelho, purga a mesmice do cotidiano, elevando todos os sonhos”. (Ramón, 2003, p.24)
Com efeito, é deveras significativo sua leitura poética e política das lavadeiras do Rio Vermelho, expressa no poema em que as homenageia. Cora Coralina desenha essas mulheres sofridas e fortes a partir de várias “marcas” impingidas em seus corpos e gestos na experiência de lavadeiras/mães/viúvas/trabalhadoras/mulheres/pessoas:
Essa mulher...
Tosca. Sentada. Alheada ...
Braços cansados
Descansando nos joelhos ...
Olhar parado, vago,
Perdida no seu mundo
De trouxas e espumas de sabão
- é a lavadeira.
Mãos rudes deformadas.
Roupa molhada.
Dedos curtos.
Unhas enrugadas.
Córneas.
Unheiros doloridos
Passaram, marcaram.
No anular, um círculo metálico
Barato, memorial.
Seu olhar distante,
Parado no tempo.
À sua volta
-uma espumadeira branca de sabão.
Inda o dia vem longe
Na casa de Deus Nosso Senhor,
O primeiro varal de roupa
Festeja o sol que vai subindo.
Vestindo o quaradouro
De cores culticolores.
Essa mulher
Tem quarentanos de lavadeira.
Doze filhos
Crescidos e crescendo.
Viúva, naturalmente.
Tranqüila, exata, corajosa.
Temente dos castigos do céu
Enrodilhada no seu mundo pobre.
Madrugadeira.
...
Sonha calada.
Enquanto a filharada cresce
Trabalha suas mãos pesadas.
Seu mundo se resume
na vasca, no gramado.
No arame e prendendores.
Na tina d’água.
De noite – o ferro de engomar.
Vai lavando, vai levando.
Levando doze filhos
Crescendo devagar,
Enrodilhada no seu mundo pobre,
Dentro de uma espumadeira
Branca de sabão.
As lavadeiras do Rio Vermelho
Da minha terra,
Faço deste pequeno poema
Meu altar de ofertas. (Coralina, 1993, p.205-209)
A solidariedade compartilhada com mulheres sofridas, exploradas e discriminadas é expressa em “Mulher da vida”, poema que escreveu em contribuição para o Ano Internacional da Mulher, em 1975:
Mulher da Vida,
Minha irmã,
De todos os tempos,
De todos os povos,
De todas as latitudes,
Ela vem do fundo imemorial das idades
E carrega a carga pesada
Dos mais torpes sinônimos,
Apelidos e ápodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.
Mulher da Vida,
Minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas,
Desprotegidas e exploradas,
Ignoradas da Lei, da justiça e do direito. (Cora Coralina, 1993, p. 203)
É inegável a preocupação de Cora Coralina com as mulheres de seu tempo. Por outro lado, sua poesia é marcada pelo o assujeitamento ao padrão hegemônico exigido e isso a fez expressar como: “Eu sou a menina feia da Ponte da Lapa. Eu sou Aninha”. Ela incorpora a feiúra que lhe impuseram através de construções que expressam as imagens/significações sociais constitutivas dos modelos que referenciavam o “ser mulher” como portadora de um corpo sedutor. Mas, Judith Butler (2003, p.198), afirma que: “o corpo não é um ser, mas uma fronteira variável, uma superfície cuja permeabilidade é politicamente regulada, uma prática significante dentro de um campo cultural de hierarquia do gênero e de heterossexualidade compulsória”.
Vicência Bretãs Tahan, filha de Cora Coralina, narra em seu livro os comentários maldosos a respeito da sua estética física, momento no qual uma amiga da
família expressou: “Coitadinha da Anica, tão desenxavida e estabanada. Essa não vai casar tão cedo!” (Tahan, 1995, p.25). A concepção negativa da beleza feminina de Cora Coralina assume o contraponto entre as relações de gênero e os aspectos qualificativos imputados às mulheres, através dos seus corpos. Tânia Navarro Swain, ao discutir a “invenção do corpo feminino”, diz que:
Além das descrições históricas/sociais do funcionamento do gênero binário, a problemática do corpo biológico como feminino/masculino torna-se incontornável. O corpo biológico, fundamento “natural” da diferença, é então percebido como criação do social. Neste aspecto, o poder constitutivo das relações sociais formam o corpo quando este se percebe sexuado e o sexo biológico torna uma evidência de “natureza”, com características específicas, tornando indiscutível a divisão do humano em dois blocos separados, mas unidos ao mesmo tempo por esta “natureza”, baseada na atração mútua, nas relações heterossexuais e na possibilidade da reprodução. Para as mulheres, o corpo materno é assim inventado. (Swain, 2000, p.60)
A auto-denúncia feita por Cora Coralina quanto à nomeação de seu corpo como aquele que não se apresentava nos padrões desejados, revela como os corpos são formados e forjados na experiência de uma identificação social como “menina feia” e os significados conferidos a tal desclassificação: rejeitada, abobada, chorona, que ela, com a sensibilidade que lhe era peculiar, resume no poema “Menina mal amada”. Essas representações estão presentes no contexto da vida de Cora Coralina. A expressão classificatória referente à estética de Cora nos instiga a refletir sobre corpo, gênero e sexualidade, como criações do social, como invenção, como efeitos de práticas discursivas e não discursivas, como exercício de poder.
Assim, as relações sociais acabam constituídas em campos culturalmente definidos. Parafraseando Joan Scott, citada por Muniz (2003, p. 30):
... O gênero é uma das referências recorrentes pelas quais o poder político foi concebido, legitimado e criticado. Ele se refere à posição masculino-feminino e fundamenta ao mesmo tempo seu sentido. Para proteger o poder político, a referência deve parecer certa e fixa, fora de toda a construção humana, tomando parte da ordem natural ou divina. Dessa maneira, a oposição binária e o processo social de relações de gênero tornam-se ambos parte do próprio significado do poder; pôr em questão ou mudar um aspecto ameaça o sistema inteiro... (Scott, 1988, p. 88)
Nesse contexto, Aninha, “a menina mal amada”, que engenhosamente se torna Cora, a “poetisa muito amada”, justamente por ter compartilhado com outras Anas de seu tempo as discriminações e os preconceitos que se impunham ao corpo feminino e às representações binárias de sexo. As representações imprimidas às mulheres como bonitas ou feias transformam seus corpos em lugares repletos de significantes que
revelam o corpo feminino a partir dos padrões e modelos normativos. Assim, ela escreveu “Menina mal amada”:
Fui levada à escola mal completados cinco anos
Eu era medrosa e nervosa
Chorona, feia, de nenhum agrado.
Menina abobada, rejeitada.
Ao nascer frustrei as esperanças de minha mãe.
Ela já tinha duas filhas ...
Era justo o seu desejo de um filho homem
E essa contradição da minha presença se fez sentir agravada
Com a minha figura molenga ... (Coralina, 1985, p. 113)
Segundo Diva Muniz (2000, p.211), a escola é um espaço de educação formal e também, por conta disso, um local de naturalização dos papéis sexuais. Assim, toda historicização do processo de escolaridade demanda “entender o gênero como constituído/constituinte da identidade dos sujeitos”, bem como atentar “para as múltiplas dimensões dessa construção, dentre elas a sexualidade”. Dessa maneira, não resta dúvida que “a instituição escolar configura-se um dos espaços privilegiados na composição das identidades sexuais e de gênero, enquanto espaço de poder que regula, nomeia e inculca modelos de feminilidade e de masculinidade”. (Idem, ibidem)
Trazer à tona os versos de Cora Coralina é também revelar o caráter construído das referências sociais da feminilidade e da masculinidade, tendo-se em vista que as representações de gênero atribuem significados às diferenças corporais, estabelecendo assimetrias nas relações entre os sexos. Afinal, como bem ressalta Tânia Swain (2000, p. 47-48):
Corpo e sexo são, à primeira vista, indissociáveis. Mulheres e homens, os seres aparecem assim constituídos como evidência de sua materialidade biológica. ... Seria o corpo uma superfície pré-discursiva, pré-existente, que sofre as coerções, as disciplinas, a modelagem social? Ou ao contrário, uma construção social que lhe confere imagem ou forma?
Inscrita nesse processo de assujeitamento às representações sociais de seu tempo, Aninha/Cora Coralina, não obstante submetida às imagens/valores/significações/convenções que informavam sua subjetividade, escolhe, como forma de luta e de realização pessoal, a poesia. Sua constituição como poetisa se dá, como já assinalado, na experiência de um sujeito discriminado e se materializa via anonimato, tática operada para negar aquela condição e, ao mesmo tempo, afirmar-se como sujeito ativo, criador, pleno de possibilidades, sobretudo, a de pensar, escrever,
sonhar. Fazer uso do artifício de creditar ao primo Luis do Couto (Souza, 2003, p. 17) a autoria de suas primeiras publicações no jornal “Annuário Histórico e Geographico e Descritivo do Estado”, foi invenção engenhosa para participar de um espaço que lhe estava interditado. Ninguém melhor do que um homem, sobre o qual não havia nenhum interdito, para falar em nome dela. Tal experiência foi por ela expressada em poema de 1985:
... Afinal menina moça, depois adolescente.
Meus pruridos literários, os primeiros escritinhos, sempre rejeitada.
Não, ela não. Menina atrasada da escola da mestra Silvina
Alguém escreve para ela... Luis do Couto, o primo.
Assim fui negada, pedrinha rejeitada, até a saída de Luís do Couto
Para São José do Duro, muito longe...
Vamos ver, agora, como faz a Coralina...
Passei a ser détraqué... (Coralina, 1985, p.114)
De “détraqu锓 a “nascida antes do tempo”, a precoce Cora não se cala, usa da poesia para expressar sua indignação com as desclassificações, discriminações, atitudes moralistas e reguladoras presentes na sociedade vilaboense do seu tempo. Tais vivências explodem no poema “Nasci antes do tempo”, síntese de uma vida marcada pela maturidade, sensibilidade e fina ironia:
Tudo que criei e defendi
Nunca deu certo
Nem foi aceito.
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?
Quando menina,
Ouvia dizer sem entender
Quando coisa boa ou ruim
Acontecia a alguém:
Fulano nasceu antes do tempo
Guardei.
...Nasci antes do tempo. (Coralina, 1985, p.47)
Nascer antes do tempo para Cora Coralina foi sentir-se à margem e criticar o centro, buscando desestabilizá-lo com seus questionamentos, denúncias e desafios. Daí sua escolha e sua ação política em revelar os antagonismos entre as mulheres e seu tempo, até mesmo recusar os comentários maldosos que faziam sobre os atos e ações que cercavam a sociedade vilaboense. A poesia foi sua arma nessa ação contra seu tempo, ela que justamente “nasceu antes do tempo”.
Coerência foi o que nunca lhe faltou. Sua postura transgressora ante os valores familiares e sociais da tradicional sociedade vilaboense, apresentou-se novamente no momento em que Cora desafiou tudo em favor de suas escolhas. Durante uma tertúlia literária ela conheceu Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretãs. Nessa época tinha 20 anos e já era considerada uma “solteirona”. Entre poemas, saraus e acirrados debates culturais Coralina e Cantídio se apaixonaram. O romance do casal não foi aceito pela família de Cora, então ela decidiu partir com Cantídio para São Paulo3. A sociedade se indignou, pois esse homem era separado, pai de dois filhos e vinte anos mais velho do que ela. Assim, ela revela, realisticamente, em outro poema, como se sentiu ao exercer seu direito de escolha, ao lutar pelos seus sonhos e desejos:
E eu parti em busca do meu destino.
Ninguém me estendeu a mão.
Ninguém me ajudou e todos me jogaram pedras.
Despojada. Apedrejada.
Sozinha e perdida nos caminhos da vida. (CORALINA, 1987, p. 84. Grifos meus).
Sua neta Ana Maria Tahan afirma que “a Ana que virou Cora e foi rejeitada pela cidade, criou asas e ganhou fama”. Nesse momento, almejando sua liberdade Cora se tornou uma aventureira ousada, mulher transgressora e libertária, o passado vilaboense foi deixado para trás, juntamente com os preconceitos sociais. Vivendo em São Paulo ela atuou junto à Revolução Constitucionalista de 1932. Nesse período, em evidente atuação política pela causa revolucionária, ela foi enfermeira, cuidando dos combatentes feridos; confeccionou bonés, uniformes e aventais para os rebeldes; foi libertária, subindo nos palanques em defesa da causa feminista; foi líder de movimento, elaborando um manifesto em defesa da formação de um partido político feminino e até organizou uma agremiação. (Jornal do Brasil, 2002, p. 2)
Anos mais tarde, ela revela, em primoroso poema, suas múltiplas identidades, impossíveis de serem contidas em uma definição fixa, única e estável de “mulher”:
Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso de água e sabão.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos.
Vive dentro de mim
a mulher roceira
- Enxerto da terra,
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim.
(CORALINA, 1990, p. 45).
Fazendo uma leitura dos poemas de Cora Coralina sob a perspectiva dos estudos feministas e de gênero, não há como deixar de reconhecer que seus escritos são reveladores de algumas inscrições corporais performativas nela operadas, decorrentes dos mecanismos reguladores que constroem o aparato dos corpos como algo coerente, algo como se corpo fosse o próprio “ser”, reiteradores de como os sexos foram estabelecidos ao longo dos tempos (Buther, 2003).
Tal paradoxo não é privilégio de Cora. Como afirma Tereza de Lauretis (1994, p.218): “...as mulheres como seres históricos, sujeitos de “relações reais”, são motivadas e sustentadas por uma contradição em nossa cultura, uma contradição irreconciliável: as mulheres se situam tanto dentro quanto fora do gênero, ao mesmo tempo dentro e fora da representação.”
Apazigua-nos tal possibilidade ante o desafio de rebater as críticas demolidoras da natureza feminista e libertária de seus poemas. Pois, se Cora Coralina buscou justamente, na poesia, a forma de sair do gênero, por outro lado, essa mesma poesia se situa dentro do gênero, inscrita que estava na contradição irreconciliável que as mulheres como seres históricos são sujeitos e assujeitados às relações sociais.
No entanto, o que não se pode negar é que Cora Coralina construiu um universo peculiar, transitou entre o público e o privado e, em meio a tachos de doces, maternidade, literatura e vida doméstica familiar, ela desafiou várias condutas da sociedade que estabeleciam como as “mulheres decentes” deviam se portar. Sua determinação abriu brechas para resistir às práticas que reservava oportunidades diferentes a homens e mulheres e, “a menina feia da ponte da Lapa”, transformou-se numa mulher “aventureira e libertária”.

Por * Maria Meire de Carvalho é doutoranda no programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, na área de concentração em Estudos Feministas e de Gênero. Professora do curso de História da UEG, UnU “Cora Coralina”, Cidade de Goiás e professora do curso de Turismo da Faculdade Cambuy, Goiânia (GO).
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
BUTHER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 3ª.ed. Goiânia: UFG, 1985.
_______. Meu livro de cordel: poemas e crônicas. Goiânia: Cultura Goiana, 1976.
_______. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 18ª. ed. São Paulo: Global, 1993.
_______. Estórias da casa velha da ponte. 5ª. ed. São Paulo: Global, 1985.
_______. Villa Boa de Goyaz. São Paulo: Global, 2001.
LAURETIS, Tereza de. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (org.) Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
MUNIZ, Diva C. G. Um toque de gênero: história e educação em Minas Gerais (1835-1892). Brasília: FINATEC/UnB, 2003.
_______. Meninas e meninos na escola: a modelagem da diferença. In: SWAIN, T. N. Feminismos: teorias e perspectivas. Textos de História. Revista da Pós-Graduação em História da UnB, v. 8. n. 1 / 2. Brasília, 2000, p.189-214.
RAMÓN, Saturnino Pesquero. Cora Coralina, o mito de Aninha. Goiânia: UCG, 2003.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade. Porto Alegre:UFRS/Faced, v.15, n.2, 1990.
SOUZA, Maria Inez de. As múltiplas faces de Cora Coralina na sociedade vilaboense. Cidade de Goiás: UEG, 2003. (Monografia de Especialização em História do Brasil e Região).
SWAIN, Tânia Navarro. A invenção do corpo feminino ou a hora e a vez do nomadismo identitário. In: SWAIN, T. N. (org). Feminismos: teorias e perspectivas. Textos de História. Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UnB. Brasília: UnB, 2000, v. 8, n. 1/2, p.47-84.
TAHAN, Vicência Bretãs. Cora coragem, Cora poesia. São Paulo: Global, 1995.
TAHAN, Ana Maria. Aventureira e libertária. Jornal do Brasil. Caderno Idéias. Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 2002, p.02.
FONTES VIRTUAIS (ON LINE)
Labrys (Revista de Estudos Feministas). <Disponível em: http://www.unb.br/ih/his/gefem>

                                                                     MARIA APARECIDA R. MARQUES