A Marcha Mundial das Mulheres – MMM constitui-se como uma açăo organizada do
A experięncia construída e vivenciada pelos movimentos sociais da Regiăo Fronteira
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul em 2005, desencadeou um importante espaço de educaçăo popular. Esta atividade, organizada a partir de oficinas sobre temáticas diversas, atividades culturais, feira permanente de economia popular e solidária (com representatividade de vários grupos formais e informais de geraçăo de trabalho e renda), gerou um ato político que reforçou a luta em prol de uma nova sociedade com princípios mais justos e igualitários. Mulheres e homens, identificados com a causa feminista e integrantes dos mais variados movimentos sociais participaram desta atividade, oriundos de diversos municípios da regiăo e dos países vizinhos da Argentina, Paraguai e Uruguai. “O feminismo foi ŕs ruas e falou com a sociedade
em geral e movimentos sociais por meio dos valores da Carta” (Boletim da Marcha, 2005, p. 01) A MMM possibilitou um importante espaço de formaçăo dos sujeitos envolvidos no seu processo de organizaçăo, através dos debates e discussőes em torno da reivindicaçăo da igualdade de gęnero e por melhores condiçőes de vida para todos. Configurando-se como uma prática transformadora de conscientizaçăo da sociedade em que vivemos e de construçăo de uma conscięncia crítica, este encontro evidenciou o discurso do caráter transformador da educaçăo popular, contribuindo para a mudança social, onde os indivíduos assumem o papel de protagonistas da sua própria história. “Conscientizaçăo, participaçăo e organizaçăo popular constituem-se, nesse sentido, tręs termos chaves de referęncia, bem como, a constituiçăo de um povo sujeito de seu
próprio processo de transformaçăo e de seu próprio projeto histórico” (Torres, 1988, p. 18). Tendo em vista a mudança da realidade em que vivemos, temática esta que permeou constantemente as discussőes do encontro, pode-se conceituar a educaçăo popular como sendo um processo coletivo mediante o qual os setores populares chegam a se converter no sujeito histórico, gestor e protagonista de um projeto libertador que encarne seus próprios interesses de classe. Para isso, a educaçăo popular deve-se ver como parte e apoio a um processo coletivo mediante o qual os setores populares, a partir de sua prática social, văo construindo e consolidando sua própria hegemonia
ideológica e política, quer dizer, desenvolvendo as condiçőes subjetivas – a conscięncia política e a organizaçăo popular – que lhes tornarăo possível a construçăo de seu próprio projeto histórico (Peresson et al, citados por Torres, 1988, p. 62).
O processo educativo presente em toda Atividade Mercosul da MMM, também esteve
pautado pelo discurso democrático da educaçăo popular, buscando “romper com o verticalismo e o autoritarismo (Torres, 1988, p. 19). Isto recebeu destaque através da organizaçăo do evento construída num processo coletivo, numa relaçăo pedagógica permeada por meio do diálogo. Somado a isso, entende-se que este encontro constituiu-se como uma importante prática social e educativa, na tentativa de intervir na realidade, com vistas ŕ sua transformação. Este vem a ser um dos propósitos da educação popular ŕ medida em que contribui para “transformar a realidade social, procurando fazer a construção de uma nova sociedade que responda aos interesses dos setores populares” (Torres, 1988, p. 62) na perspectiva de mudanças de consciências e atitudes, “canalizando seus esforços expressamente ao fortalecimento da organização popular” (Torres, 1988, Percebe-se assim, que a educação acontece nos diversos espaços de convivência de nossas vidas, seja na família, na escola, comunidade em que estamos inseridos ou em uma prática social. Nesta análise, é fundamental a compreensão de que o conhecimento não está dividido em partes, mas compreende uma totalidade. Ele năo se acomoda em uma área específica do saber e também não acontece por via de transmissão. O conhecimento se dá quando há um diálogo entre os saberes.
Freire (citado por Torres, 1986, p. 78) sintetiza bem esta afirmação quando destaca que
a educação é sempre um ato de conhecimento, qualquer que seja sua marca ideológica, a opção política do educador ou da educadora, individualmente ou num grupo, como classe, como categoria social. Melhor dizendo, não há possibilidade de entender a educação sem perceber que toda situação educativa, formal ou informalmente, é sempre uma situaçăo na qual há um certo objeto de conhecimento a ser conhecido.
Outro aspecto importante a considerar sobre o encontro da MMM, foi a Feira de Economia Popular e Solidária. Esta Feira, organizada pelas cooperativas, movimento de mulheres e sindicatos possibilitou a reflexăo sobre o papel da mulher como gestora de empreendimentos de economia popular e solidária, permitindo trocas de experięncias e a comercializaçăo dos produtos produzidos pela agricultura familiar na perspectiva de melhorias na vida das mulheres e contribuindo para a igualdade de gęnero nas estruturas sociais, econômicas e culturais. Discussões e práticas fortaleceram-se em oposiçăo ŕ forma competitiva de organizaçăo, propondo um novo modelo de gestăo, baseado nos princípios de cooperaçăo e solidariedade.
A Atividade Mercosul da MMM, com o envolvimento direto dos setores populares
demonstrou a organizaçăo e a capacidade de mobilizaçăo dos movimentos sociais da Região Fronteira Noroeste do RS. Com ousadia e compromisso social as mulheres foram as principais protagonistas desta história e, desde entăo, deixam cada dia marcas significativas nas suas constantes lutas pela igualdade de gęnero e pela transformaçăo da sociedade. A Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, em sua passagem pelo Rio Grande do Sul, especificamente na cidade de Porto Xavier, possibilitou o fortalecimento dos movimentos sociais e contribuiu para desencadear na regiăo um importante espaço de educaçăo popular. Aliado a isso, a Colcha de
Retalho simbolizou a construçăo internacional da solidariedade feminista. A continuidade da viagem da Carta ficou sob responsabilidade dos movimentos de mulheres da Argentina e Paraguai, que atravessaram o rio Uruguai e deram prosseguimento ŕs manifestações nos demais países contemplados no roteiro. Também garantiram a mobilizaçăo no dia 17 de outubro, por ocasiăo da chegada da Carta e da Colcha em Burkina Faso. Enquanto isso, no mesmo dia, organizou-se na Regiăo Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, desta vez na
cidade de Cerro Largo, uma atividade simbólica, fazendo parte da corrente de solidariedade e ação feminista a nível mundial. Vale frisar que após desencadeadas as açőes da Marcha Mundial das Mulheres no ano de 2000, a cada ano um maior número de mulheres e homens abraçam esta causa, o que vem consolidando cada dia mais as mobilizaçőes locais, nacionais e internacionais. movimento feminista internacional na luta pelo fim da pobreza, da violęncia sexista e por um
mundo mais humano e igualitário para homens e mulheres. “A idéia da Marcha Mundial nasceu de uma proposta do movimento de mulheres de Quebec, Canadá, baseada na experięncia da Marcha ‘Păo e Rosas’ ocorrida lá mesmo, em junho de 1995” (Coordenaçăo Nacional da Marcha das Mulheres, 2000, p. 4). Na Marcha “Păo e Rosas” participaram inúmeras mulheres que reivindicavam o aumento do salário mínimo, mais direitos sociais e apoio ŕ economia popular e solidária. No entanto, estas açőes ganharam visibilidade somente a partir do ano de 2000, desencadeando mobilizaçőes locais, nacionais e internacionais, em prol da igualdade de gęnero e
pela redistribuiçăo de renda entre os menos favorecidos financeiramente e as classes subalternas, organizando-se a nível mundial para se contrapor ao sistema capitalista vigente. Com o objetivo de sensibilizar “a sociedade em torno da necessidade de transformações profundas, que a levem de uma situaçăo de pobreza, exclusăo e violęncia até a possibilidade de vida digna para todas as pessoas” (Coordenaçăo Nacional da Marcha das Mulheres, 2000, p. 14), a mobilizaçăo da MMM no Brasil, ampliou suas lutas com a realizaçăo do Fórum Social Mundial, organizado na sua primeira ediçăo em 2001. Diversos movimentos sociais, populares e sindicais,
rurais e urbanos apoiaram a iniciativa da MMM e construíram uma luta conjunta, exigindo o direito ŕ terra, ao trabalho, saúde, educaçăo e por um mundo melhor.
Aos poucos, este movimento ganhou força e legitimidade organizando as mulheres em torno de uma agenda feminista na perspectiva da “construçăo de um projeto de transformaçăo da sociedade que incorpore uma visăo feminista e as mulheres como sujeitos políticos” (Marcha Mundial das Mulheres no Brasil, 2005, p. 1) sendo elas atrizes fundamentais da mudança social. Em dezembro de 2004, por ocasiăo do 5Ş Encontro Internacional da Marcha realizado em Kigali, Ruanda, dez anos após o genocídio ocorrido naquele país, surgiu a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, com a intençăo de servir como instrumento de açăo para a luta das
mulheres. “A Carta representa um acordo construído entre as coordenaçőes nacionais de 50 países, dentre os quais, 35 presentes em Ruanda” (Marcha Mundial das Mulheres no Brasil, 2005, p. 2). Neste contexto, o ano de 2005 foi pautado por uma ampla mobilizaçăo internacional, organizada em torno da viagem simbólica da Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade em 50 países, iniciada no Brasil no Dia Internacional da Mulher e tendo a sua chegada em Burkina Faso , no dia 17 de outubro daquele ano. Além da passagem da Carta foi construída uma imensa colcha de retalhos (representada em ilustraçőes feitas de retalhos e tecidos costurados em uma
colcha), onde cada país representou a partir de simbologia própria o verdadeiro significado da Carta. O percurso começou em Săo Paulo no dia 08 de março e prosseguiu para o Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina, cidade de Porto Xavier no dia 12 de março de 2005, constituindo-se assim a “Atividade Mercosul da Marcha Mundial das Mulheres”. Este foi um dos pontos de entrada da Carta Mundial das Mulheres no mundo. A reivindicaçăo de valores baseados na solidariedade, igualdade, justiça, liberdade e paz, tęm sido um dos propósitos das açőes da Marcha Mundial das Mulheres. Nessa perspectiva, este artigo tem como pretensăo refletir acerca da experięncia educativa construída pelos movimentos sociais da
Regiăo Fronteira Noroeste do RS, por ocasiăo da passagem da Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, sendo esta uma das açőes da Marcha Mundial das Mulheres, realizada no município de Porto Xavier – RS, em março de 2005. Esta experięncia foi protagonizada pelos movimentos sociais, organizando-se a partir de oficinas sobre temáticas diversas, atividades culturais e partilhas de experięncias de grupos formais e năo formais da economia popular e solidária e teve por objetivo
principal contribuir para a igualdade de gęnero em todas as esferas sociais.
Pesquisa feita no http://br.monografias.com/ por Maria Aparecida R. Marques