A Constituição Brasileira de 1988, considerada como a Constituição Cidadã, institui que todos são iguais perante a lei, sem distinção de cor, raça ou credo religioso. No entanto, sabemos que em nosso país ainda perdura um dos males mais repugnantesda sociedade mundial, o racismo. O racismo enquanto fenômeno híbrido e multifacetado abarca não só as expressões e manifestações agressivas de intolerância e ódio racial, como também se expressa através de situações carregadas de um teor simbólico e implícito em que o racismo atua como fenômeno segregador. O racismo é um “conjunto de ações , idéias, doutrinas e pensamentos que estabelece, justifica e legitima a dominação de um grupo racial sobre outro, pautado numa suposta superioridade do grupo dominador em relação aos dominados . Num regime em que prevalece uma lógica racista, os recursos das mais diversas ordens (econômicos, políticos e simbólicos) são distribuídos seguindo a lógica desigual da hierarquia racial vigente”. (2010) “ a partir do tráfico de escravos/as e da escravidão nas Américas que raça começaria a ser associada indelevelmente a negro/a africano/a e a inferioridade da condição escrava, a ser construída como uma condição essencial dos/as negros/as”. (2010) Sendo assim, os brancos passaram a ser vistos e entendidos como superiores aos negros/as e mestiços, tanto biologicamente como também moral e intelectualmente. No decorrer dos anos várias foram as teorias desenvolvidas tanto para justificação como para repudio do conceito de raça e do racismo, no entanto sabemos que o racismo ainda persiste enquanto fenômeno segregador e excludente e que a teoria da Democracia Racial defendida por Gilberto Freyre que apresentava o Brasil como exemplo “de convivência pacífica e ausente de conflitos, preconceitos ou discriminações de base racial” (2010) ainda é um sonho. Segundo o sociólogo Florestan Fernandes (1965 e 1972) no Brasil persiste a lógica do racismo á brasileira, ou melhor, prevalece o aspecto “trickster” (malandro) do preconceito e do racismo, onde ninguém assume ter ou já ter tido alguma postura e/ou atitude racista, mas já ter presenciados estas atitudes no comportamento de alguém próximo. Essas situações vivenciadas no cotidiano por muitos negros/as vem afirmar que nosso país ainda não alcançou o ideário da igualdade promulgado pela Constituição Cidadã e quando realizamos o recorte de gênero notamos que essa desigualdade se acentua. Verena Stolcke relata que “as diferenças de raça/etnia, ao lado das de classe, se destacam, entre outras características disponíveis dos seres humanos, como indicadores significativos da desigualdade social e elas interagem para reproduzir a opressão das mulheres em geral e as diferenças particulares entre elas”. (1990) As mulheres conquistaram muitos avanços em relação aos homens, mas ainda é notório as desvantagens comparadas em relação as mulheres brancas. Por exemplo, “as mulheres que começam a se movimentar para ocupações de nível superior são predominantemente brancas, enquanto que há uma forte concentração de mulheres pretas e pardas no serviço doméstico. As mulheres provenientes das classes mais pobres (majoritariamente negra) se dirigem para a prestação de serviços e para os empregos ligados à produção na industria, enquanto que as mulheres de classe média se dirigem para o serviço de produção e de consumo coletivo (setor terciário) devido aos seus melhores níveis educacionais”. (2010) Por tanto, na política o cenário não é diferente, durante muitos anos as mulheres foram mantidas longe da vida pública tendo como referência e destino a vida familiar e os espaços privados. A partir do século XX as mulheres crescem no eleitorado e em 2008 já representavam 52% do eleitorado. Apesar destes avanços “a maioria no voto não chegou a transformar a participação por gênero nos diversos níveis de representação parlamentar. As mulheres brasileiras continuam sub-representadas no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais”. Considerando o recorte de raça a representação nestes espaços é ainda menor. Partindo destas análises o seminário visa contribuir para o despertar crítico das mulheres negras usuárias dos serviços ofertados no Centro de Referência da Assistência Social, partindo da premissa do racismo enquanto fenômeno determinante nos processos excludente e na negação de oportunidades, tendo como base a palestra de uma mulher negra, vereadora do município que conseguiu driblar o preconceito de raça e gênero e se firmar enquanto representante legislativa de seu município. |
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Grupo MSul04 "Performance Negra"