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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Desigualdades de gênero e cor no Brasi


Neste texto, Kaizô Beltrão e Moema Teixeira nos contam duas histórias opostas, que ocorreram no Brasil nos últimos cinqüenta anos – a transformação profunda da posição da mulher no mundo do estudo e das profissões, e o difícil e ainda lento processo de eliminação das diferenças entre brancos e não brancos.Parte da primeira história está contada no gráfico 1, baseado em dados da PNAD de 2003. A educação de homens e mulheres no Brasil nunca foi muito diferente, em  termos de anos de escolaridade, e vem crescendo de geração a geração, com quatro anos de escolaridade media para os que tem hoje 60 anos, e duas vezes mais para que os que  hoje tem 20. Quarenta anos atrás, poucos no Brasil terminavam o ensino médio e entravam nas universidades, e eram quase todos homens. Naquele tempo, a educação das mulheres  não ia além das escolas secundarias, aonde se preparavam para o casamento, ou das escolas normais, de formação de professoras. Hoje, a maioria dos estudantes de ensino superior são mulheres, e o nível educacional das mulheres de 50 anos e menos já maior do que o dos homens. Além disto, todos os indicadores educacionais mostram que as mulheres permanecem mais tempo na escola, e têm desempenho melhor. As mulheres já invadem também as antigas profissões masculinas, como a engenharia, a medicina e o direito. Esta entrada das mulheres no mundo das profissões está relacionada às transformações da família tradicional, ao ingresso das mulheres no mercado de trabalho, e à grande redução da taxa de fecundidade ocorrida no país, que deu mais condições para que as mulheres deixassem de se dedicar exclusivamente à vida doméstica. Nem tudo são flores. Ainda existem profissões predominantemente femininas, como o magistério, o serviço social ou a enfermagem, de rendimentos  relativamente baixos, e que atraem sobretudo mulheres de famílias mais pobres. Em praticamente todas as carreiras, as mulheres ocupam menos posições de destaque do que os homens, e seus salários são também menores. Mas a grande preocupação no Brasil, em termos de educação, não é a situação das mulheres, como ocorre em muitos paises da Ásia, África e da região andina, e sim com a situação dos homens, e especialmente dos jovens que abandonam a escola aprendendo pouco, e com possibilidades cada vez menores de conseguir se integrar ao mercado de trabalho. A segunda história está contada no gráfico 2. Sempre foram profundas, no Brasil, as diferenças entre brancos e não brancos. Todos melhoraram sua escolaridade nas últimas décadas, mas só muito recentemente a diferença começou a se reduzir.  Estas diferenças em escolaridade afetam a chance de pessoas não brancas de ingressar no ensino superior, e conseguir posições de trabalho adequadas nas profissões mais prestigiadas e bem pagas. Na PNAD 2003, os brancos eram 49.5% da população, mas ocupavam 73.8% das matrículas no ensino superior de graduação, e 80% dos programas  de mestrado e doutorado. Os brancos que se formam nas universidades trabalham, sobretudo, em atividades de gerência em empresas, como professores, ou como advogados ou médicos. Pardos e negros também se concentram nestas profissões, com o predomínio das atividades de magistério, seguidas de atividades administrativas de diferentes tipos. Existem no entanto profissões que, embora pequenas, são predominantemente ocupadas por pardos e negros: são sobretudo técnicas, ou de trabalhadores especializados na indústria e nos serviços. Uma explicação possível para estas histórias tão diferentes é que, no Brasil, as mulheres sempre compartilharam a posição social dos homens com quem convivem, enquanto que brancos e não brancos sempre viveram em mundos socialmente distantes. Os especialistas discutem se estas diferenças se devem à herança da escravatura, ou a diferença de classes, ou a preconceitos e barreiras de raça. O mais provável é que seja tudo isto ao mesmo tempo. Os dados mostram que, com o tempo, todos melhoram, e os não brancos de hoje tem a educação que tinham os brancos 20 anos atrás. Mas é um ritmo demasiado lento, e explica muito da desigualdade de oportunidades que é a marca da sociedade brasileira, e que precisamos aprender rapidamente a superar.

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